domingo, 28 de fevereiro de 2010

O falso e o verdadeiro


Por Elisabeth Cavalcante:


Para aqueles que ainda vivem em total inconsciência, é praticamente impossível perceber quem verdadeiramente são, do que e do que necessitam para serem felizes.
Para eles, a vida se resume em seguir uma direção que lhes foi determinada, inicialmente pela família e, mais tarde, pela sociedade. Eles seguem a trilha sem jamais questionar o porquê dela não os estar levando na direção da felicidade.

Nunca se perguntam sobre as razões desta discrepância. E, a menos que algum acontecimento verdadeiramente devastador lhes aconteça, continuarão a interpretar seu velho papel, até o final da vida.

Alguns, após vivenciarem uma experiência que lhes retire toda a base de segurança que acreditavam possuir, começam lentamente a desconfiar de que existe algo errado com suas convicções. Descobrem que elas já não servem para fazê-los voltar à antiga situação de conforto, quando a ilusão e a inconsciência predominavam.

Embora este seja um processo extremamente doloroso, ele é, ao mesmo tempo, muito libertador. Pois, a partir daí, se torna possível que comecem a busca, aquela que os levará ao encontro de sua verdade mais profunda.

Quando passamos a questionar quem, de fato, somos, esta pergunta se torna a base para toda e qualquer diretriz que possamos dar à nossa vida.
Crenças e valores arraigados caem por terra, deixando-nos com um vazio, que aos poucos passa a ser preenchido por nossas verdadeiras necessidades, aquelas que emergem do ser real, e não mais daquele que foi moldado para adaptar-se convenientemente aos valores do mundo.

A viagem se torna cada vez mais perigosa, pois exigirá de nós coragem, determinação e um desejo profundo de ir ainda mais fundo nesta descoberta.
Entretanto, voltar atrás se torna impossível, pois o novo ser que acabamos de conhecer, jamais se amoldará novamente à máscara que nos ensinaram a usar para ocultá-lo.

...Tantra não é um conceito moral. Não é nem moral nem imoral; é amoral. É uma ciência, e ciência não é nenhuma das duas coisas. Suas moralidades e conceitos a respeito do comportamento moral são irrelevantes para o tantra.
Tantra não está preocupado com a maneira como alguém deveria comportar-se. Ele está preocupado basicamente com o que é, com o que você é. Esta distinção precisa ser entendida profundamente.

A moralidade se preocupa com ideais - como você deveria ser, o que você deveria ser. Portanto, moralidade é basicamente condenação. Você nunca é o ideal, então, você está condenado. Toda moralidade é criadora de culpa.
Você pode nunca tornar-se o ideal; você está sempre ficando para trás. A distância estará sempre lá - porque o ideal é o impossível; e através da moralidade se torna mais impossível.
O ideal está lá no futuro, e você está aqui como o que você é. E você segue comparando. Você nunca é o homem perfeito; alguma coisa está faltando. Você sente culpa, você sente autocondenação.

....Tantra é contra a autocondenação - porque condenação nunca pode transformar você; condenação pode somente criar hipocrisia. Então, o que você não é, você tenta, você pretende mostrar. Hipocrisia significa que você é o homem real, não o homem ideal. Então, você tem uma fenda dentro de você. Você tem uma face falsa. O homem irreal nasce. E tantra é basicamente uma procura para o homem real, não para o homem irreal.

Toda moralidade cria hipocrisia... Hipocrisia permanecerá com moralidade, é parte dela - a sombra. Isto parecerá paradoxal, porque moralistas são os homens que mais condenam a hipocrisia; eles são os criadores dela. E hipocrisia não pode desaparecer da terra a menos que a moralidade desapareça.

... Você pode criar uma face falsa; você pode pretender ser algo que você não é. Aquilo salva você. Na sociedade, você pode mover-se mais facilmente, mais convenientemente. E interiormente você tem que suprimir o real, porque o irreal pode ser imposto somente se o real é suprimido.

Então, sua realidade vai se movendo para baixo dentro da inconsciência, e sua irrealidade se torna sua consciência. Sua parte irreal se torna mais proeminente, e o real recua para trás. Você está dividido. E quanto mais você tenta simular, maior será a distância".


OSHO - Vigyan Bhairav Tantra

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