segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


Coragem para seguir em frente e realizar nossa vocação

Ao descobrir nossa vocação, surge em nós, simultaneamente, um profundo sentimento de coragem. Sentimo-nos muito próximos de nós mesmos quando compreendemos uma verdade interna que não pode mais ser negada. Conseqüentemente, nós nos comprometemos com a idéia de abandonar tudo aquilo que nos impedia de ir na direção de nosso destino.

“Ir de encontro ao destino é realizar plenamente o potencial que está desde sempre em nós. É como ouvir um chamado e responder a ele. Ou desabrochar todas as nossas potencialidades e seguir uma vocação. E estranhamente, o mundo costuma nos corresponder quando fazemos assim. Uma das formas de saber que se está no bom caminho e que estamos fazendo aquilo para o qual nascemos é que o mundo nos abre as portas".

Joseph Campbell nos dá uma ótima dica de como descobrir nossa vocação em seu livro Reflexões sobre a Arte de Viver“Quando Jung decidiu tentar descobrir o mito segundo o qual estava vivendo, ele se perguntou, ‘De que brincadeiras eu gostava quando era criança?’ Sua resposta foi: fazer pequenas cidades e ruas com pedras. Assim, ele comprou um terreno e, à guisa de distração, começou a construir uma casa. Deu um trabalho imenso, absolutamente desnecessário, pois ele já possuía uma casa, mas foi um modo apropriado de criar um espaço sagrado. Foi pura diversão. O que você fez, quando criança, que criasse a sensação de atemporalidade, que fizesse com que você se esquecesse do tempo? É aí que está o mito pelo qual você deve viver".

Todos nós precisamos conhecer nossa vocação: o que temos de particular para oferecer ao mundo. Não seguir nossa vocação representa um problema tanto para nós quanto para os outros, pois, quando nos entregamos à inércia da vida, nos tornamos também um peso para aqueles que estão à nossa volta.

Jean Yves Leloup, em seu livro Caminhos da Realização, Ed. Vozes analisa como a história de Jonas e a baleia, contada no Antigo Testamento da Bíblia, pode nos ensinar sobre os medos e resistências com os quais nos deparamos na busca por nossa vocação.

Deus ordena a Jonas que vá para a violenta cidade de Nínive pregar a Sua palavra. Jonas, no entanto, o desobedece e toma um barco para Társis, cidade de veraneio. Sobrevém uma forte tempestade. Os marinheiros jogam ao mar toda a carga do barco para evitar que ele naufrague. No entanto, o mar continua incrivelmente agitado e o perigo de um naufrágio permanece iminente. O capitão decide então procurar Jonas que havia descido para o porão e ao encontrá-lo deitado, dormindo um sono profundo, lhe diz: “Como podes dormir tão profundamente? Como podes dormir no meio deste desespero que nos faz sucumbir? Levanta-te, desperta, invoca teu Deus. Talvez este teu Deus possa nos ouvir, talvez que, com este teu Deus, não pereçamos". Enquanto isso, ao jogarem dados, os marinheiros preocupados identificam Jonas como o causador daquela perturbação. Ele por fim confessa ter desobedecido a Deus, e pede que lhe joguem ao mar. A tempestade então cessa. Ao ser lançado ao mar, Jonas é engolido por uma baleia dentro da qual passa três dias até se arrepender e pedir a Deus que lhe dê uma segunda chance. Assim, ele é expelido da baleia e finalmente segue para Nínive.

“Portanto Jonas, num primeiro momento, é o arquétipo do homem deitado, adormecido, do homem que não quer se levantar e não quer cumprir missão alguma. É o arquétipo do homem que foge, que foge da sua identidade, que foge da sua palavra interior, que foge desta presença do Self no interior do Eu. Esta fuga de sua voz interior vai provocar um certo número de problemas no exterior dele mesmo". Aquele que se recusa a conhecer a si mesmo e não segue os seus desejos mais profundos, acarreta problemas para os outros!

Em um segundo momento, quando Jonas dentro da baleia decide retomar seu caminho, ele não teme mais nada. Como escreve Jean Yves Leloup: “Há momentos que não podemos mais nos mentir, nos contarmos estórias. Nós somos obrigados a sermos autênticos, não podemos mais fugir. O arquétipo de Jonas é também um convite para que mergulhemos na profundeza de nosso inconsciente, para passarmos através destas sombras, para mergulharmos na nossa própria experiência da morte, aceitarmos que nosso ser é mortal, para descobrirmos, em nós, o que não morre".

Nyang-de: ir além da mágoa

Se decidirmos nos tornar alguém que se dedica com todo o coração a utilizar a vida para despertar, temos que superar a dificuldade de lidar com o desconforto das mudanças.

Quando nos conscientizamos de que estamos resistentes em aceitar uma mudança iminente, é útil nos perguntar: “O que é preciso morrer agora dentro de mim, para nascer nesta nova fase com força e confiança?” Uma resposta é certa: nossas mágoas.

Carregar mágoas nos faz sentir cansados e sem vontade de iniciar novos projetos. Elas revelam o quanto estamos estagnados por limitações internas e externas. Ficar presos a elas consome nossa energia vital.

Dalai Lama explica que o termo tibetano para nirvana é nyang-de que se traduz literalmente por “além da mágoa”. “Nesse contexto, mágoa refere-se às aflições da mente; de modo que o nirvana realmente designa um estado de ser que está livre de emoções e pensamentos angustiantes. O nirvana é a imunidade ao sofrimento e às causas do sofrimento. Quando percebemos o nirvana nesses termos, começamos a nos dar conta do que a felicidade verdadeira e genuína realmente significa. Podemos então visualizar a possibilidade de nos livrarmos totalmente do sofrimento".

Cada vez que formos capazes de interiorizar e escutar nosso medo estaremos amadurecendo nosso potencial de coragem. Ao reconhecer o medo, diga a si mesmo: “Eu já te conheço, sei para onde você me leva, não quero mais te seguir”. Concentre-se, então, na sua intenção de expressar sua vocação. E finalmente lembre-se: nem tudo que é aflitivo acontece - noventa por cento de nossos medos são hábitos, idéias pré-concebidas. Mova-se para o futuro, confie nele!


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